O cliente me telefona e diz que comprou uma casa que precisava de uma reforma. Daí ele contratou um pedreiro (ótimo, indicação de um amigo) e já mandou demolir todas as paredes. Mas agora precisava de um “projetinho” pro pedreiro continuar a trabalhar. Daí ele pensou que podia consultar um arquiteto prá dar umas “idéias”. Ah, e que ele tem pressa, porque o se o pedreiro ficar sem ter o que fazer na obra é capaz que ele vá prá outro serviço.
A situação é tão absurda que eu gasto uns minutos pensando por onde começar a explicar para ele que quando se vai fazer uma reforma ou construir algo, a primeira coisa fazer é procurar um arquiteto e fazer um projeto. Começar uma obra sem projeto é como procurar um interruptor numa sala escura. É possível que você o encontre de primeira, mas também é grande a chance de se chutar um móvel, machucar a canela e quebrar um vaso antes disso.
O projeto é o que permite planejar a obra. Só depois de pensar qual a melhor forma de intervir no espaço (custo / benefício) para obter o que você deseja dele é que se contrata quem quer que seja necessário para realizá-lo (projetos complementares como iluminação, estrutura, paisagismo… pedreiro,empreiteiro, marceneiro, etc), pondera-se qual a melhor forma de investir o dinheiro disponível (refazer elétrica e hidráulica é o tipo de coisa que não se pode deixar prá depois enquanto que um armário é possível), e organizam-se as etapas de obra/ compra de materiais/ encomenda de móveis, batentes, janelas, pisos, etc. de forma que, a exemplo do seu pedreiro, “não se fique sem o que fazer na obra”.
Por fim, arquiteto não “dá” idéias. Arquiteto organiza esse caos que são os desejos e a ansiedade do cliente perante as possibilidades do espaço, as limitações de estrutura e custo, regras de condomínio, etc e as concretiza num projeto. Depois, o acompanha ao longo da obra e resolve os problemas e imprevistos, preservando as idéias importantes para que, ao fim, todos sobrevivam. Inclusive o desejo do cliente de viver naquele espaço tão sonhado.